Agora voltemos ao "faz algumas coisas" do paragrafo acima, que coisas são essas? Onde você aprendeu elas? Como lida com elas? Todas essas coisas são a sua profissão, mas o que é profissão? Será que é apenas o seu trabalho? Aquilo que você é pago para fazer? Vamos buscar a definição de profissão:
pro·fis·são
(latim professio, -onis, declaração, manifestação, profissão, emprego, estado, ensino)
substantivo feminino1. Declaração pública.
2. Solenidade na qual alguém se liga por votos a uma ordem religiosa.
3. Ofício; emprego; ocupação; mister.
"profissões", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/profiss%C3%B5es [consultado em 05-01-2020].
Como podemos ver acima, profissão vem do latim professio e significa declaração, manifestação, então a sua profissão é a sua declaração para o mundo, seu ofício. Isso deixou as coisas um pouco mais profundas do que apenas "aquilo que faço para ganhar dinheiro". Inclusive não há na definição acima (pelo menos na etimologia da palavra) algo que ligue profissão a dinheiro, logo podemos ser profissionais sem ser remunerados (e também podemos ser amadores remunerados!).
Assumindo essa nova visão mais profunda sobre a sua profissão, você gasta um pouco do seu tempo diário pensando no que você está declarando para o mundo através do seu trabalho? Você pensa em como fazer algo com qualidade, que agregue valor real para o mundo? Fazendo essa reflexão para a nossa área, a programação, fica claro que não faz parte da nossa rotina trazer essa reflexão para o nosso dia a dia (e isso está longe de ser ensinado em nossas escolas, mas isso é assunto para outro momento).
As nossas responsabilidades como programadores são cada vez maiores, pois em um mundo onde a automação toma cada vez mais espaço, passamos de pessoas que criavam e geravam simples sistemas de cadastro e, quando muito, folhas de pagamento, para mantenedores de sistemas que movimentam milhões por semana, sistemas hospitalares (não só a ficha do paciente, mas também todo o suporte a vida de algumas UTIs) e a programação no mundo real através de robôs, carros autonômos, aviões e muito mais. Então precisamos fazer bem tudo isso, fazer nosso trabalho com qualidade, precisamos pensar sobre o que estamos fazendo, não apenas fazer. É necessário gastar um tempo pensando antes de qualquer decisão, se aquilo é a melhor forma de fazer, se irá ajudar as pessoas que prometemos ajudar e principalmente, se não irá prejudicar as pessoas que prometemos ajudar, tudo isso converge para um aspecto muito importante, a qualidade das nossas criações.
A qualidade de tudo o que fazemos está altamente correlacionada em como dominamos os meios pelo quais nos expressamos, da mesma forma que um marceneiro que usa com maestria suas ferramentas e cria coisas incríveis, um desenvolvedor que domina o computador com maestria também cria coisas incríveis, afinal a ferramenta para o artesão é como uma extensão para a sua mão e quando você quer fazer algo com a sua mão você não precisa pensar em quanto deve rotacionar seu pulso, a pressão que deve colocar nos dedos, etc., você só pensa no que deve ser feito e faz.
Parece ser muita responsabilidade e, pra falar a verdade, é. É necessário um esforço em forma de treino e prática a mais na sua rotina para que você domine essas ferramentas, seu computador, o servidor onde você roda suas aplicações, porém tudo isso vem com a sensação de que você está realmente no controle do que acontece, no controle da qualidade e principalmente no controle da sua carreira, que é parte essêncial da sua vida. E é claro, quando você tiver um domínio alto de todas as suas ferramentas e sua carreira, tudo isso para de ser uma barreira e permite você focar na sua parte criativa, participar de outras decisões (como de negócios) e também, quem sabe, se divertir mais com o seu trabalho.
Essas são algumas reflexões que tirei do inicio da segunda ediçao do livro O Programador Pragmático, que já comentei em outro post.
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